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Boletim da IACM de 28 de maio de 2013

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Israel — os pacientes entram em greve de fome para protestar contra as restrições sobre o uso medicinal da cannabis

Pacientes e médicos organizaram uma greve de fome em frente à casa do ministro da Saúde, Yael German no 23 de Maio para protestar contra as novas restrições sobre o uso de cannabis medicinal. O novo procedimento, implementado imediatamente, elaborou uma lista de condições para que um paciente possa receber a aprovação para o tratamento com cannabis. Entre outros, na lista são aceites pacientes com metástase do câncer, doença de Crohn, colite ulcerativa, pacientes HIV positivos com perda de peso extrema, pacientes com esclerose múltipla com espasmos musculares e pacientes terminais com uma expectativa de vida de até meio ano. Pacientes com dor de origem neurológica receberão autorização para consumir cannabis somente após um ano de tratamento numa clínica de dor reconhecida e após o fracasso dos tratamentos anteriores.

Os manifestantes querem que outras condições devam ser incluídas na lista, incluindo a doença de Parkinson, glaucoma e doenças e distúrbios psiquiátricos. Recentemente quatro médicos do Fórum dos Médicos para o Acesso Seguro a Cannabis enviaram uma carta a German protestando contra o novo procedimento. O presidente do forum, o Dr. Ilya Reznick do Hospital Reut em Tel Aviv, o Dr. Jonathan Greenfeld, diretor do serviço de oncologia e medicina paliativa no Hospital Assaf Harofeh, o Dr. Alan Flashman, da Universidade Hebraica de Jerusalém, e o Dr. Yakir Rotenberg do Centro Médico Hadassah alertam que o novo procedimento pode causar que pacientes que agora já não estão na lista tenham que comprar a sua medicina em fontes ilegais. Segundo eles, os procedimentos anunciados são "arbitrários e discriminam entre pacientes com condições diferentes, sem qualquer explicação lógica, e são susceptíveis de provocar danos á continuidade do tratamento para alguns deles, sendo isto contrario as Leis dos Direitos dos Pacientes." Actualmente, cerca de 11.000 pacientes estão autorizados a usar cannabis para fins medicinais em Israel.

Haaretz of 17 May 2013.

Ciência/Humanos — O uso de cannabis foi associada com menor resistência à insulina e redução do risco de diabetes

Apesar do aumento do apetite e da ingestão calórica, um inquérito representativo mostra que o consumo de cannabis está associado com baixos níveis de insulina em jejum, menor resistência à insulina e menor circunferência da cintura. Este é o resultado de um estudo epidemiológico com 4.657 adultos realizado por investigadores da Universidade de Nebraska, College of Medicine, em Omaha, do Departamento de Epidemiologia da Harvard School of Public Health, em Boston, e da Unidade de Investigação em Epidemiologia cardiovascular no Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, EUA. Dos participantes, 579 eram usuários de cannabis actuais e 1975 eram antigos usuários.

O consumo de cannabis actual foi associada com níveis de insulina em jejum 16% mais baixos e com HOMA-IR 17% mais baixos. A avaliação do modelo da homeostase (HOMA) é um método utilizado para quantificar a resistência à insulina e a função das células que produzem insulina no pâncreas, as chamadas células beta. Os investigadores também encontraram associações significativas entre o uso de cannabis e menores circunferências da cintura. Estes efeitos da cannabis podem proteger contra o desenvolvimento de diabetes. Os investigadores especulam que os seus resultados podem estar relacionados com efeitos sobre a hormona de adiponectina, a qual é libertada a partir de tecido adiposo. A adiponectina modula uma série de processos metabólicos, incluindo a regulação da glicose. Os níveis de esta hormona estão mais elevados nos adultos com um alto percentual de gordura.

Penner EA, Buettner H, Mittleman MA. The Impact of Marijuana Use on Glucose, Insulin, and Insulin Resistance among US Adults. Am J Med. 2013 May 16. [in press]

Ciência/Humanos — A cannabis melhorou os sintomas da doença de Crohn em um estudo controlado por placebo

A inalação de cannabis melhorou os sintomas e a actividade da doença em pacientes com doença de Crohn. Este é o resultado de um estudo clínico com 21 participantes, que não responderam a uma terapia com corticóides, imunomoduladores ou agentes fator-alfa anti- necrose tumoral, realizado no Departamento de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade de Tel Aviv, Israel. Os doentes receberam cigarros de cannabis duas vezes ao dia ou cigarros de placebo durante oito semanas.

A remissão completa foi alcançada em 5 dos 11 pacientes no grupo de cannabis e uma de 10 no grupo placebo. Foi observada uma melhoria clinicamente significativa em 10 dos 11 pacientes no grupo de cannabis e 4 de 10 no grupo de placebo. Três pacientes do grupo de cannabis foram desmamados da dependência de esteróides. Aqueles que receberam cannabis relataram melhoria no apetite e no sono, sem efeitos colaterais significativos. Os autores concluíram que "um tratamento de curta duração (8 semanas) com cannabis rico em THC-, produz benefícios clínicos significativos sem necessidade de esteróides para 11 pacientes com DC activa, em comparação com placebo, e sem efeitos colaterais."

Naftali T, Bar Lev L, Dotan I, Lansky EP, Sklerovsky BF, Konikoff FM. Cannabis Induces a Clinical Response in Patients with Crohn's Disease: a Prospective Placebo-Controlled Study. Clin Gastroenterol Hepatol. 2013 May 3. [na imprensa]

Notícias

Ciência/Humanos — A cannabis e o baclofen actuaram sinergicamente em um paciente com esclerose múltipla

Num doente com esclerose múltipla progressiva secundária, cuja espasticidade não respondera ao tratamento convencional, uma combinação de injecções de baclofen no fluido cerebrospinal e doses muito baixas de extracto de cannabis Sativex foi altamente eficaz. O baclofen só não foi eficaz. Os investigadores observaram um "efeito supra-aditivo na combinação" de ambos medicamentos.

Departamento de Neurologia, St Josef-Hospital, Ruhr-University Bochum, na Alemanha.

Stroet A, et al. Ther Adv Neurol Disord 2013;6(3):199-203.

Free full text.

Ciência/Humanos — Melhor cognição em pacientes com psicose que usam cannabis

Os investigadores examinaram a matéria cinzenta do cérebro de 28 pacientes com um primeiro episódio psicótico e com antecedentes de uso de cannabis, 78 pacientes sem história de uso de cannabis e 80 controles saudáveis que não tinham usado cannabis. Os pacientes com antecedentes de uso de cannabis tinham menos anormalidades cerebrais, bem como menos deficiências cognitivas em comparação com os pacientes sem história de uso de cannabis.

Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Brasil.

Cunha PJ, et al. Schizophr Res. 2013 May 11. [na imprensa]

Itália — Sativex disponível em breve

GW Pharmaceuticals anunciou que o seu extrato de cannabis Sativex tem aprovação de comercialização na Itália. A empresa espera o lançamento comercial em Setembro pelo sócio da GW, Almirall.

Press release by GW Pharmaceuticals of 7 May 2013

EUA — A legislatura de Colorado votou a fiscalização da cannabis recreativa

A legislatura de Colorado preparou e enviou ao governador um projecto de lei para estabelecer o que seria o primeiro imposto sobre as vendas comerciais de cannabis adquirido para uso recreativo, nos Estados Unidos. A medida foi aprovada como parte de um pacote de medidas para implementar a lei de legalização da cannabis em Colorado promulgada pelos eleitores em Novembro passado. Esperava se que o governador democrata John Hickenlooper assinara a legislação.

Reuters of 9 May 2013

O governo da Geórgia está a considerar a possibilidade de legalizar a cannabis no país, disse o Ministro dos Assuntos Sociais, do Trabalho e da Saúde, David Sergeyenko. "Tanto quanto as drogas estão em causa, os mecanismos de proibição relacionados muitas vezes implicam um efeito de ricochete, o que significa o fortalecimento e desenvolvimento de outras direcções, etc." Agência de imprensa Novosti-Geórgia citando a Sergeyenko.

RIA Novosti of 10 May 2013

Ciência/Animais — Os canabinoides atenuam as respostas a determinados receptores de dor na dor oncológica

O canabinóide sintético WIN 55,212-2 reduziu a resposta para os receptores de dor das chamadas fibras C em ratos com dor oncológico. As fibras C são responsáveis pela sensação de dor após estímulos de forte intensidade.

Departamento de Ciências de diagnóstico e Biológicas da Universidade de Minnesota, Minneapolis, EUA.

Uhelski ML, et al. Neuroscience. 2013 May 11. [in press]

Ciência/Humanos — Os pacientes com transtorno de estresse pós-traumático têm alterações do sistema endocanabinóide.

Em comparação com 29 pessoas saudáveis, 10 pacientes que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático tinham concentrações de endocanabinóides anandamida e 2-AG significativamente maiores e apresentavam algumas outras alterações do sistema endocanabinóide. Os autores escreveram que isto "pode ter consequências fisiopatológicas e de diagnóstico."

Departamento de Anestesiologia, Ludwig-Maximilians University, em Munique, na Alemanha.

Hauer D, et al. PLoS One 2013;8(5):e62741.

Ciência/Animais — O canabidiol reduz as convulsões em um modelo de epilepsia no rato

O canabidiol (CBD) reduziu as convulsões em ratos, nos quais as convulsões foram causados por uma substância química e choques eléctricos.

Centro de Investigação em Neurociências, Shahid Beheshti University of Medical Sciences, Teerã, no Irã.

Shirazi-Zand Z, et al. Epilepsy Behav 2013;28(1):1-7.

Ciência/Animais — O canabidiol facilita a extinção do medo

Microinjeções repetidas de CBD em uma determinada região do cérebro (córtex infralimbico) de ratos facilitou a extinção do medo. Este efeito foi mediado pelo receptor de CB1. Os investigadores concluíram que essas observações "sugerem um potencial uso terapêutico do CBD para terapias baseadas na extinção de memórias aversivas em seres humanos."

Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.

Do Monte FH, et al. Behav Brain Res. 2013 May 1. [na imprensa]